À mesa do restaurante, João faz manha exigindo o celular da mãe para se
divertir durante o almoço. Maria se joga no chão da loja de brinquedos
porque quer que o pai compre aquela boneca agora. E, sentado no sofá de
casa, Pedro se irrita com os pais porque quer uma resposta urgente sobre
poder ou não ir à festa dos amigos no sábado à noite. Todos eles, não
importa a idade, têm algo em comum: vão se tornar adultos mimados,
incapazes de lidar com as frustrações do mundo.
A culpa do destino dos três, João, Maria e Pedro, é do imediatismo que
rege as relações atualmente. Temos, como pais, dito muitos “sim” para os
filhos, quando, na verdade, o ideal seria dizer mais “não sei” ou “vou
pensar”. Como explica a psicóloga e educadora Rosely Sayão, essa atitude
traz como maior prejuízo uma alienação em relação à realidade.
— O adulto que tem o imediatismo cultivado, ao invés de controlado, tem dificuldade de compreender e se inserir no mundo.
Pressionados a responder às demandas dos filhos imediatamente, os pais
acabam soltando respostas impensadas, e a consequência, na visão da
coach de vida e carreira Ana Raia, é a criação de jovens pouco
preparados para lidar com a vida.
Mães de hoje em dia se sentem incompetentes o tempo todo, diz psicóloga
Segundo ela, os pais, atualmente, não aguentam não ser imediatistas. Se
no passado eles se permitiam deixar os filhos insatisfeitos por mais
tempo, hoje atitudes como essa se transformaram em um dos maiores
desafios na educação das crianças e jovens.
Ana acredita que a tecnologia colabore para o imediatismo a partir do
momento em que, ao toque de um dedo na tela do celular, a resposta para
qualquer pergunta ou busca de informação podem ser obtidas em
pouquíssimos segundos.
— Não conseguimos sustentar uma dúvida por muito tempo, um incômodo. Não
sabemos lidar com um mal-estar neste mundo onde a felicidade é
imperativa.
E a dúvida, explica Rosely Sayão, é preciosa, assim como a espera e o
pensamento, porque eles ajudam a criança a crescer e a amadurecer.
Crianças que não têm momentos de “mente vazia”, por exemplo, poderão
sofrer graves consequências na vida adulta.
Alguém que está sempre entretido terá para sempre a necessidade de
entretenimento constante, alerta o médico Daniel Becker, criador do
projeto Pediatria Integral. Segundo ele, para ser criativo, o cérebro
humano precisa da criatividade.
— São necessários momentos em que ele está engajado com algo externo, e
também momentos em que está ocioso, em estado de contemplação. Quando
uma criança tem seu tempo completamente tomado com atividades como
escola, inglês, natação, Facebook, Instagram, WhatsApp, ela fica
incapacitada de ter importantes processos interiores.
Becker acrescenta que crianças que não interagem com seus pares ou com
os adultos, porque passam o dia com eletrônicos na mão, terão menos
inteligência emocional, menos empatia e menos capacidade de se comunicar
com os outros quando crescerem.
Se este já não fosse um bom argumento, ainda haveria a opinião de outros
especialistas, que enxergam o hábito dos pais de entregar celulares e
tablets às crianças como algo benéfico apenas para os adultos.
Na opinião de Rosely Sayão, oferecer um eletrônico em momentos em que se
espera que os filhos se socializem com a família e amigos não é um
carinho, mas, sim, um comodismo.
— O celular e o tablet nestas situações têm a função do “cala a boca”, nada além disso.
Mas,
então, o que fazer quando a conversa no restaurante está boa, mas os
pequenos não param de dar chilique e pedir para ir embora? O pediatra
Daniel Becker dá uma boa dica.
— As pessoas se esquecem que as crianças sabem conversar e que podem
fazer pequenos contratos. Mesmo as menorzinhas têm essa capacidade de
compreensão. Basta dizer ao filho que, nos momentos em que estiverem
conversando em família, ele não terá o tablet, mas que, quando a mamãe e
o papai estiverem falando só com seus amigos, ele poderá pegar o tablet
emprestado por 15 minutos. Assim, se alcança um equilíbrio.
Soluções como esta são recursos para que os pais lidem não só com o
imediatismo das crianças, como também o deles próprios, que pode, mesmo
que de maneira não intencional, servir como exemplo negativo aos filhos,
que acabam copiando as atitudes da família.
Para o pediatra presidente do Congresso Brasileiro de Urgências e
Emergências Pediátricas, Hany Simon, a ansiedade e a angústia na
adolescência e na vida adulta podem ser resultados do imediatismo
paterno presenciado na infância. E, como reforça Rosely Sayão, viver de
maneira urgente só traz impactos emocionais negativos nas crianças.
— Somos imediatistas desde que nascemos. Choramos para manifestar
desconforto, somos atendidos e temos nossas necessidades básicas
saciadas. Com isso, vem também uma sensação de prazer, que vamos desejar
para sempre. No entanto, precisamos entender que não é o princípio do
prazer que vai reger a nossa vida, e, sim, o princípio da realidade. O
papel dos pais é, aos poucos, mostrar aos filhos a realidade do mundo.
À mesa do restaurante, João faz manha exigindo o celular da mãe para se
divertir durante o almoço. Maria se joga no chão da loja de brinquedos
porque quer que o pai compre aquela boneca agora. E, sentado no sofá de
casa, Pedro se irrita com os pais porque quer uma resposta urgente sobre
poder ou não ir à festa dos amigos no sábado à noite. Todos eles, não
importa a idade, têm algo em comum: vão se tornar adultos mimados,
incapazes de lidar com as frustrações do mundo.
A culpa do destino dos três, João, Maria e Pedro, é do imediatismo que
rege as relações atualmente. Temos, como pais, dito muitos “sim” para os
filhos, quando, na verdade, o ideal seria dizer mais “não sei” ou “vou
pensar”. Como explica a psicóloga e educadora Rosely Sayão, essa atitude
traz como maior prejuízo uma alienação em relação à realidade.
— O adulto que tem o imediatismo cultivado, ao invés de controlado, tem dificuldade de compreender e se inserir no mundo.
Pressionados a responder às demandas dos filhos imediatamente, os pais
acabam soltando respostas impensadas, e a consequência, na visão da
coach de vida e carreira Ana Raia, é a criação de jovens pouco
preparados para lidar com a vida.
Mães de hoje em dia se sentem incompetentes o tempo todo, diz psicóloga
Segundo ela, os pais, atualmente, não aguentam não ser imediatistas. Se
no passado eles se permitiam deixar os filhos insatisfeitos por mais
tempo, hoje atitudes como essa se transformaram em um dos maiores
desafios na educação das crianças e jovens.
Ana acredita que a tecnologia colabore para o imediatismo a partir do
momento em que, ao toque de um dedo na tela do celular, a resposta para
qualquer pergunta ou busca de informação podem ser obtidas em
pouquíssimos segundos.
— Não conseguimos sustentar uma dúvida por muito tempo, um incômodo. Não
sabemos lidar com um mal-estar neste mundo onde a felicidade é
imperativa.
E a dúvida, explica Rosely Sayão, é preciosa, assim como a espera e o
pensamento, porque eles ajudam a criança a crescer e a amadurecer.
Crianças que não têm momentos de “mente vazia”, por exemplo, poderão
sofrer graves consequências na vida adulta.
Alguém que está sempre entretido terá para sempre a necessidade de
entretenimento constante, alerta o médico Daniel Becker, criador do
projeto Pediatria Integral. Segundo ele, para ser criativo, o cérebro
humano precisa da criatividade.
— São necessários momentos em que ele está engajado com algo externo, e
também momentos em que está ocioso, em estado de contemplação. Quando
uma criança tem seu tempo completamente tomado com atividades como
escola, inglês, natação, Facebook, Instagram, WhatsApp, ela fica
incapacitada de ter importantes processos interiores.
Becker acrescenta que crianças que não interagem com seus pares ou com
os adultos, porque passam o dia com eletrônicos na mão, terão menos
inteligência emocional, menos empatia e menos capacidade de se comunicar
com os outros quando crescerem.
Se este já não fosse um bom argumento, ainda haveria a opinião de outros
especialistas, que enxergam o hábito dos pais de entregar celulares e
tablets às crianças como algo benéfico apenas para os adultos.
Na opinião de Rosely Sayão, oferecer um eletrônico em momentos em que se
espera que os filhos se socializem com a família e amigos não é um
carinho, mas, sim, um comodismo.
— O celular e o tablet nestas situações têm a função do “cala a boca”, nada além disso.
Mas,
então, o que fazer quando a conversa no restaurante está boa, mas os
pequenos não param de dar chilique e pedir para ir embora? O pediatra
Daniel Becker dá uma boa dica.
— As pessoas se esquecem que as crianças sabem conversar e que podem
fazer pequenos contratos. Mesmo as menorzinhas têm essa capacidade de
compreensão. Basta dizer ao filho que, nos momentos em que estiverem
conversando em família, ele não terá o tablet, mas que, quando a mamãe e
o papai estiverem falando só com seus amigos, ele poderá pegar o tablet
emprestado por 15 minutos. Assim, se alcança um equilíbrio.
Soluções como esta são recursos para que os pais lidem não só com o
imediatismo das crianças, como também o deles próprios, que pode, mesmo
que de maneira não intencional, servir como exemplo negativo aos filhos,
que acabam copiando as atitudes da família.
Para o pediatra presidente do Congresso Brasileiro de Urgências e
Emergências Pediátricas, Hany Simon, a ansiedade e a angústia na
adolescência e na vida adulta podem ser resultados do imediatismo
paterno presenciado na infância. E, como reforça Rosely Sayão, viver de
maneira urgente só traz impactos emocionais negativos nas crianças.
— Somos imediatistas desde que nascemos. Choramos para manifestar
desconforto, somos atendidos e temos nossas necessidades básicas
saciadas. Com isso, vem também uma sensação de prazer, que vamos desejar
para sempre. No entanto, precisamos entender que não é o princípio do
prazer que vai reger a nossa vida, e, sim, o princípio da realidade. O
papel dos pais é, aos poucos, mostrar aos filhos a realidade do mundo.
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